domingo, 27 de março de 2011

ESTRADA DA ROCHA

Topónimo anterior: Inexistente
Gravura de Portimão de 1818


Como se pode verificar pela gravura, no início do Século XIX a água chegava à actual Estrada da Rocha, que não era mais do que um caminho de terra batida.

A Estrada da Rocha era, no entanto, a principal ligação entre Vila Nova de Portimão e a Praia da Rocha. Nela localiza-se, há séculos, o Convento de São Francisco e o sítio do Estremal, conhecido actualmente por Estrumal.

Não havendo dúvidas sobre a origem do topónimo Estrada da Rocha, já o mesmo não acontece com o topónimo Estrumal. Será Estrumal, ou Estremal? Essa zona vem referida no Livro do Almoxarifado de Silves do Século XVI, como sendo um esteiro da Casa da Rainha aforada a Baltazar de Melo e sua mulher, tendo por limites a cerca do mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, terra dos sobreditos que chama do Pontal até à Rocha, pagando os mesmos 150 Réis por ano no dia de Santa Iria.

Pela leitura efectuada pelo Dr. Miguel Côrte-Real, o topónimo aparece, no Século XVI, com a grafia "Estrebial".

Para percebermos melhor qual será o verdadeiro topónimo do local, importa referir que, nesta época, os direitos de Vila Nova de Portimão pertenciam ao Conde Dom Martinho Castelo Branco e não à Casa da Rainha, como é referido no próprio Livro do Almoxarifado: "Os mais direitos da dita villa se não escrevem aqui por os pesuir Dom Martinho de Castello Bramquo a quem pertençem per suas doações e a dita senhora não pesue outro nehuum direito na dita villa"...

Deste modo, pertencendo este esteiro à Casa da Rainha, tal significa que o mesmo já se encontrava fora dos limites da vila. Aliás, a propriedade começava na cerca do convento e seguia para o Pontal até à Rocha, não pertencendo tais terras ao Conde de Vila Nova de Portimão, pelo que não será errado concluirmos que o convento marcava uma das estremas da jurisdição do conde.

Pegando agora no topónimo do Século XVI "Estrebial" facilmente se percebe que o topónimo original não é Estrumal (de estrume), mas sim Estremal (de estrema). Tal modificação do topónimo terá tido origem na pronuncia algarvia, uma vez que, em bom portimonense, tanto se diz "estremera da Câmara" para se referir à estrumeira da Câmara, como se diz "estremera" para se referir à estrema.

Não se sabe em que época a propriedade passou de mão mas, em 1903, o Estremal constituia a Quinta da Foz do Arade, sendo proprietário Francisco Bivar Weinholtz que, nesse ano, a arrendou a João António Júdice Fialho (para mais informações ver a obra Portimão - Industriais Conserveiros, da Prof. Dr.ª Maria João Raminhos Duarte). Em 15 de Maio de 1904, entrou em laboração a Fábrica de São Francisco, instalada nesse local, transformando radicalmente o caminho da vila para a Rocha. Júdice Fialho veio a adquirir, em 1911, essa parte da quinta.

A instalação da fábrica levou à construção do bairro operário do Estremal, disposto em ambos os lados da estrada, que se vê na foto abaixo.

Nas décadas de 1970/1980, deu-se o aterro que permitiu a construção do porto comercial e do cais da marinha, alterando ainda mais as características dessa zona. Nos anos 1990, as casas do lado esquerdo da estrada foram demolidas, permitindo o alargamento da estrada e uma melhor visualização da zona do porto.

A Estrada da Rocha era, frequentemente, assolada por inundações.


TOPONÍMIA:


Como já vimos, a Estrada da Rocha deve o seu topónimo ao facto de ser a principal ligação entre Portimão e a Praia da Rocha. Será um topónimo estremamente antigo, pois já no Século XVI a Rocha tinha o nome actual e a estrada de ligação era a mesma. Sabemos que a zona da Estrada da Rocha era povoada ainda no Século XV pois, quando Simão Correia decidiu mandar construir o convento, fê-lo adaptando uma igreja que se encontrava nesse local (que constitui a nave da igreja actual) e destruindo as casas aí existentes. Importa salientar que, nesse local, havia uma igreja e não uma simples capela, pelo que o número de habitantes já seria considerável. De referir, ainda, que grande parte da estrada era a margem do rio.

Nos últimos anos do Século XIX, início do Século XX, a Estrada da Rocha viu surgir as fábricas de conserva de peixe: São Francisco, de Júdice Fialho; Facho; e S. Francisco, de Feu Hermanos (actual museu), que lhe deram grande vida, tal como o estaleiro da Casa Feu.

Com o nascimento do turísmo, nas décadas de 1910/1920, ao longo da Estrada da Rocha, os operários fabris misturavam-se com os turistas e os carros de transporte de mercadorias cruzavam-se com as carrinhas dos veraneantes. Na Praia da Rocha, localizava-se o Hotel Viola, onde ficavam os turistas.

Nos anos de 1970, as fábricas encerraram, agravou-se a degradação do convento e o bairro operário foi abandonado, mas a Estrada da Rocha nunca deixou de ser uma importante via de comunicação. Com a construção do porto, adquiriu uma nova vida, vendo passar os camiões cheios de madeira e pedra de Monchique - que entravam no porto junto à Mata da Rocha - e os autocarros cheios de turistas.

Para o futuro está prevista uma requalificação urbanistica para essa zona, que passa pela construção de um novo porto de cruzeiros, edifícios residenciais e de comércio e uma zona de vivendas distribuidas num sistema de canais.


LIGAÇÕES:


A Estrada da Rocha tem início da Rua D. Carlos I e termina na Avenida Tomás Cabreira. Tem ligação com as seguintes artérias: Rua Sidónio Pais, Beco de São Francisco, Rua Simão Correia, Rua dos Oceanos, Avenidas das Comunidades Lusíadas, Avenida Rio Arade, Rua Fernanda de Castro, Rua António Feu e Rua Engenheiro José de Bivar

Estrumal (Foto de José Encarnação in Costumes e Tradições de Portimão)
Estrada da Rocha (Foto de Julio Bernardo)
Estrada da Rocha (Arquivo da C.M.P.)
Estrada da Rocha (Arquivo da C.M.P.)
Estrada da Rocha com inundação (Foto de Costumes e Tradições de Portimão)
Estrada da Rocha com inundação em 2004 (Foto de Costumes e Tradições de Portimão)
Estrada da Rocha em 2010 (Foto de Nuno Campos Inácio)

1 comentário:

  1. Foi importante a requalificação da antiga Fábrica de Feu Hermanos em Museu. Vale a pena visitar as várias exposições, sendo que a da conserva de peixe fica como memória para as próximas gerações.
    A recuperação do Convento de São Francisco seria para mim uma das prioridades, estamos a falar de uma construção ao que parece do século XV, situada junto ao rio, um local estratégico e bem interessante do ponto de vista turístico.

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