Muitos historiadores dão como momento fundador da actual cidade de Portimão, a licença concedida por D. Afonso V, por carta de 4 de Agosto de 1463, a 40 moradores, para a fundação da população de São Lourenço da Barrosa.
Não querendo contrariar esses historiadores, até porque não tenho formação em história vou apresentar, para reflexão, um conjunto de dados que parecem contradizer essa certeza.
Vejamos:
No actual Município de Portimão foram encontrados vestígios de ocupação do período Neolítico (Alcalar), Fenícia (tanques de salga), Romana (Sítio da Abicada, Coca Maravilhas, além de vários topónimos de origem romana espalhada por todo o concelho).
Não querendo ir ao ponto de confundir Portimão com a cidade de Portus Annibalis, fundada por Aníbal Barca, é um facto que o espaço actualmente ocupado pela cidade de Portimão sempre teve ocupação.
Importa agora saber se essa ocupação era isolada ou acidental, ou se, pelo contrário, em algum ponto havia uma concentração urbana, permanente e organizada, que se chamasse Portimão ou com outro nome qualquer.
O documento mais antigo que descreve a foz do Arade é a Crónica do Cruzado Anónimo, feita na Conquista de Silves de 1189.
Nessa crónica, o Cruzado fala de Alvor e descreve a subida para o porto de Silves, dizendo: "No terceiro depois do meio dia avistámos em ruínas o castelo d'Alvor, situado sobre o mar, que os nossos tinham expugnado e outros lugares desertos, cujos habitantes haviam sido mortos em Alvor. Não longe d'ali entrámos no porto de Silves encontrando a terra optimamente cultivada, mas sem habitantes, por terem fugido todos para a cidade."
Não nos diz o cruzado, que não havia construções, antes pelo contrário, pois afirma que a terra estava sem habitantes por terem fugido todos para a cidade de Silves.
A falta de referência de uma povoação na foz do rio, poderá ter a ver com a sua pouca importância face a Alvor ou a Silves, mas não indica inexistência.
Mas o Cruzado diz-nos algo mais concreto sobre as povoações que foram conquistadas:
"Estes são os castelos de que os Cristãos se apoderaram depois da conquista de Silves: Carphanabal (Sagres), Lagus (Lagos), Alvor, Porcimunt, Munchite (Monchique), Montagud, Caboiere (Carvoeiro), Mussiene (Messines), Paderne."
Como vemos, o cruzado refere outras povoações menores que foram conquistadas após Silves, que não tinha referido antes, mas seguindo uma linha de ordem geográfica.
Se virmos, as povoações conquistadas foram: Sagres, Lagos, Alvor, Porcimunt (será Portimão), Monchique, Montagud (será Ferragudo), Carvoeiro, Messines e Paderne.
Duas localidades não estão devidamente localizadas, ou são alvo de discórdia, uma é Porcimunt, a outra Montagud.
Para Porcimunt há quem apresente Portimão, ou Porches.
Na minha opinião só pode ser Portimão, pois o cruzado segue uma ordem geográfica e localiza Portimunt entre Alvor e Monchique. Depois apresenta Montagud e Carvoeiro.
Como se sabe, geográficamente Porches fica depois de Carvoeiro e não antes.
Antes de Carvoeiro, a povoação que mais se assemelha a Montagud é Ferragudo, com a agravante de se localizar na encosta de um monte, que é ponteagudo.
O facto de referir primeiro Porcimunt, seguido de Monchique e só depois Montagud, terá a ver, exactamente, com o seu cuidado em situar geograficamente cada uma das localidades conquistadas.
Temos, assim, razões para crer que Porcimunt seja a actual cidade de Portimão. Mas, se não quisermos aceitar as mesmas, outras há que indiciam a existência de Portimão antes de 1463.
Uma delas é documental. O Foral atribuído à então Vila Nova de Portimão por D. Manuel I, faz referência a outro dado à mesma vila "por D. Afonso, que foi Conde de Bolonha", ou seja, pelo Rei D. Afonso III (1248-1279).
Deste modo, quando da conquista definitiva do Algarve já Portimão existia, com importância suficiente que justificasse a atribuição de um Foral.
Mais prova documental da existência de Portimão antes da fundação de São Lourenço da Barrosa, encontramo-la na Torre do Tombo, com indivíduos que aparecem como naturais dessa localidade.
De 26 de Abril de 1435 é um processo contra Vasco Peres, morador em Portimão, termo de Silves, onde era acusado de danificar colmeias.
De 10 de Julho de 1438 é, como consta na mensagem relativa à Carta de Brazão de Armas de Gil Simões, a atribuição do brazão a Gil Simões e ao seu irmão, naturais de Portimão.
Pelo menos estes 3 indivíduos, que terão nascido c. 1400, eram naturais da localidade de Portimão, mas teremos que acrescentar, pelo menos, os pais e familiares directos de cada um, sendo que Vasco Peres não terá nada a ver com a família de Gil Simões.
Outro documento que refere a existência de Portimão antes de São Lourenço da Barrosa é o Livro do Almoxarifado de Silves do Século XV. Ainda que a elaboração do livro seja de 1474, ou seja, 11 anos depois da fundação de São Lourenço da Barrosa, o mesmo baseia-se em documentos anteriores, alguns de 1438; neste livro, quando se delimita o Reguengo do Castelo do Ninho, faz-se referência a uma “comeada que vay vertendo auguas pêra Bouna e pêra Aldea Noua e uem entestar pola comeada em Bouna…” Como se sabe, a Ribeira de Boina é um dos afluentes do Rio Arade, pelo que, a Aldeia Nova referida no Livro do Almoxarifado de Silves só pode ser Aldeia Nova de Portimão, que subiu a Vila Nova de Portimão com a conclusão das muralhas.
Em 24 de Maio de 1466 (3 anos depois do pedido para a fundação de São Lourenço da Barrosa), D. Afonso V concedeu licença a Álvaro de Teivas para fazer uma barca de passagem no rio do “logar de Portimão”, e haver a sua renda. No entanto, esta barca não foi a primeira, pois o Livro do Almoxarifado de Silves do Séc. XV diz que “a barca de passagem que anda aa foz a qual ssoya d andar arrendada com a passagen d Aluor e ora traz Aluaro de teiuas a quem el Rej della ffez mercee per ssua carta.” Temos, assim, que a barca de passagem já existia antes de 1466, mas era detida pela mesma pessoa que explorava a barca de passagem de Alvor. Falta descobrir de quando é o foro da barca de passagem de Alvor, mas será certamente anterior a 1463, pois nem é referido no livro do Almoxarifado.
Temos, assim, comprovação documental da existência da localidade de Portimão antes de São Lourenço da Barrosa.
Outro dado relevante, surge no próprio pedido para a fundação de São Lourenço da Barrosa. Tal pedido é feito por 40 moradores do sítio de Portimões. Este Portimões será um plural de Portimão, ou o próprio nome da localidade mal escrito. Não raras vezes, até em assentos de baptismo mais recentes, os padres escrevem mal o nome das localidades, dando origem a enormes confusões.
Vejamos o texto do pedido de fundação de São Lourenço da Barrosa, segunda a leitura do medievalista José Manuel Vargas:
1463, Agosto, 4 - Carta de criação da povoação de S. Lourenço da BarrosaDom Afonso, cet.A quantos esta carta de contrauto virem, fazemos saber que:
Não querendo contrariar esses historiadores, até porque não tenho formação em história vou apresentar, para reflexão, um conjunto de dados que parecem contradizer essa certeza.
Vejamos:
No actual Município de Portimão foram encontrados vestígios de ocupação do período Neolítico (Alcalar), Fenícia (tanques de salga), Romana (Sítio da Abicada, Coca Maravilhas, além de vários topónimos de origem romana espalhada por todo o concelho).
Não querendo ir ao ponto de confundir Portimão com a cidade de Portus Annibalis, fundada por Aníbal Barca, é um facto que o espaço actualmente ocupado pela cidade de Portimão sempre teve ocupação.
Importa agora saber se essa ocupação era isolada ou acidental, ou se, pelo contrário, em algum ponto havia uma concentração urbana, permanente e organizada, que se chamasse Portimão ou com outro nome qualquer.
O documento mais antigo que descreve a foz do Arade é a Crónica do Cruzado Anónimo, feita na Conquista de Silves de 1189.
Nessa crónica, o Cruzado fala de Alvor e descreve a subida para o porto de Silves, dizendo: "No terceiro depois do meio dia avistámos em ruínas o castelo d'Alvor, situado sobre o mar, que os nossos tinham expugnado e outros lugares desertos, cujos habitantes haviam sido mortos em Alvor. Não longe d'ali entrámos no porto de Silves encontrando a terra optimamente cultivada, mas sem habitantes, por terem fugido todos para a cidade."
Não nos diz o cruzado, que não havia construções, antes pelo contrário, pois afirma que a terra estava sem habitantes por terem fugido todos para a cidade de Silves.
A falta de referência de uma povoação na foz do rio, poderá ter a ver com a sua pouca importância face a Alvor ou a Silves, mas não indica inexistência.
Mas o Cruzado diz-nos algo mais concreto sobre as povoações que foram conquistadas:
"Estes são os castelos de que os Cristãos se apoderaram depois da conquista de Silves: Carphanabal (Sagres), Lagus (Lagos), Alvor, Porcimunt, Munchite (Monchique), Montagud, Caboiere (Carvoeiro), Mussiene (Messines), Paderne."
Como vemos, o cruzado refere outras povoações menores que foram conquistadas após Silves, que não tinha referido antes, mas seguindo uma linha de ordem geográfica.
Se virmos, as povoações conquistadas foram: Sagres, Lagos, Alvor, Porcimunt (será Portimão), Monchique, Montagud (será Ferragudo), Carvoeiro, Messines e Paderne.
Duas localidades não estão devidamente localizadas, ou são alvo de discórdia, uma é Porcimunt, a outra Montagud.
Para Porcimunt há quem apresente Portimão, ou Porches.
Na minha opinião só pode ser Portimão, pois o cruzado segue uma ordem geográfica e localiza Portimunt entre Alvor e Monchique. Depois apresenta Montagud e Carvoeiro.
Como se sabe, geográficamente Porches fica depois de Carvoeiro e não antes.
Antes de Carvoeiro, a povoação que mais se assemelha a Montagud é Ferragudo, com a agravante de se localizar na encosta de um monte, que é ponteagudo.
O facto de referir primeiro Porcimunt, seguido de Monchique e só depois Montagud, terá a ver, exactamente, com o seu cuidado em situar geograficamente cada uma das localidades conquistadas.
Temos, assim, razões para crer que Porcimunt seja a actual cidade de Portimão. Mas, se não quisermos aceitar as mesmas, outras há que indiciam a existência de Portimão antes de 1463.
Uma delas é documental. O Foral atribuído à então Vila Nova de Portimão por D. Manuel I, faz referência a outro dado à mesma vila "por D. Afonso, que foi Conde de Bolonha", ou seja, pelo Rei D. Afonso III (1248-1279).
Deste modo, quando da conquista definitiva do Algarve já Portimão existia, com importância suficiente que justificasse a atribuição de um Foral.
Mais prova documental da existência de Portimão antes da fundação de São Lourenço da Barrosa, encontramo-la na Torre do Tombo, com indivíduos que aparecem como naturais dessa localidade.
De 26 de Abril de 1435 é um processo contra Vasco Peres, morador em Portimão, termo de Silves, onde era acusado de danificar colmeias.
De 10 de Julho de 1438 é, como consta na mensagem relativa à Carta de Brazão de Armas de Gil Simões, a atribuição do brazão a Gil Simões e ao seu irmão, naturais de Portimão.
Pelo menos estes 3 indivíduos, que terão nascido c. 1400, eram naturais da localidade de Portimão, mas teremos que acrescentar, pelo menos, os pais e familiares directos de cada um, sendo que Vasco Peres não terá nada a ver com a família de Gil Simões.
Outro documento que refere a existência de Portimão antes de São Lourenço da Barrosa é o Livro do Almoxarifado de Silves do Século XV. Ainda que a elaboração do livro seja de 1474, ou seja, 11 anos depois da fundação de São Lourenço da Barrosa, o mesmo baseia-se em documentos anteriores, alguns de 1438; neste livro, quando se delimita o Reguengo do Castelo do Ninho, faz-se referência a uma “comeada que vay vertendo auguas pêra Bouna e pêra Aldea Noua e uem entestar pola comeada em Bouna…” Como se sabe, a Ribeira de Boina é um dos afluentes do Rio Arade, pelo que, a Aldeia Nova referida no Livro do Almoxarifado de Silves só pode ser Aldeia Nova de Portimão, que subiu a Vila Nova de Portimão com a conclusão das muralhas.
Em 24 de Maio de 1466 (3 anos depois do pedido para a fundação de São Lourenço da Barrosa), D. Afonso V concedeu licença a Álvaro de Teivas para fazer uma barca de passagem no rio do “logar de Portimão”, e haver a sua renda. No entanto, esta barca não foi a primeira, pois o Livro do Almoxarifado de Silves do Séc. XV diz que “a barca de passagem que anda aa foz a qual ssoya d andar arrendada com a passagen d Aluor e ora traz Aluaro de teiuas a quem el Rej della ffez mercee per ssua carta.” Temos, assim, que a barca de passagem já existia antes de 1466, mas era detida pela mesma pessoa que explorava a barca de passagem de Alvor. Falta descobrir de quando é o foro da barca de passagem de Alvor, mas será certamente anterior a 1463, pois nem é referido no livro do Almoxarifado.
Temos, assim, comprovação documental da existência da localidade de Portimão antes de São Lourenço da Barrosa.
Outro dado relevante, surge no próprio pedido para a fundação de São Lourenço da Barrosa. Tal pedido é feito por 40 moradores do sítio de Portimões. Este Portimões será um plural de Portimão, ou o próprio nome da localidade mal escrito. Não raras vezes, até em assentos de baptismo mais recentes, os padres escrevem mal o nome das localidades, dando origem a enormes confusões.
Vejamos o texto do pedido de fundação de São Lourenço da Barrosa, segunda a leitura do medievalista José Manuel Vargas:
1463, Agosto, 4 - Carta de criação da povoação de S. Lourenço da BarrosaDom Afonso, cet.A quantos esta carta de contrauto virem, fazemos saber que:
Pero Vasques, nosso capelão e arcediago da sé da nossa cidade de Silves
Pero Vieira e Joan' Eanes, cónegos da dita sé,
Gil Eanes e Nuno Martins, nossos vassalos,
João da Faria,
moradores na dita cidade de Silves
João Afonso da Sovereira, vassalo,
Gonçalo Martins, besteiro do conto,
João de Portimão, aposentado
Gomes Afonso, privilegiado,
João Anes, cavaleiro aposentado,
João Anes Garim (ms.: Guarim), aposentado
João Pequeno, besteiro do conto,
Vasco Pequeno, aposentado,
Fernão Vasques, criado do Ifante Dom Anrique, meu tio, que Deus haja,
Afonso Rodrigues, filho de João Afonso da Sovereira,
Martim Anes, filho de João Gil,
Vasco Eanes da Sovereira,
Pero Rodrigues,
Martim Anes da Sovereira,
Álvaro Eanes Moreno,
Martim Anes Moreno,
João Vasques, filho de Vasco Anes,
Gil Eanes Garim,
André Anes, filho de João Portimão,
Álvaro Lourenço,
Martim Vasques,
Álvaro Galego,
Lourenço Bentes,
Vasco Eanes, filho de João Pires,
João Gonçalves,
João Cavaleiro,
Francisco Gil,
João do Estreito,
Gil Anes Araquino,
João do Castelo,
Gil Cavaleiro,
Lourenço Anes do Esteiro,
João [Vasques Pires], filho de Vasco Pires,
Aires Gomes, filho de Gomes Aires,
todos moradores em Portimão, termo da dita nossa cidade de Silves,
nos enviaram dizer como seria muito serviço de Deus e nosso, e bem daquela terra,
fazer-se uma povoração na foz da dita cidade de Silves, onde chamam a Barrosa,
e ora nós ordenamos que se chame São Lourenço da Barrosa.
Como podemos verificar, entre os fundadores há um João de Portimão, que terá adoptado por apelido o nome da terra de onde seria natural, situação normal para a época.
No entanto, uma análise aos registos paroquiais, que na freguesia de Portimão começam em 1575, podemos verificar facilmente que a maioria dos apelidos destes 40 moradores se mantém 100 anos depois. Mas muitos outros há que não constam nesta lista que, por exemplo os processos do Tribunal do Santo Ofício referem, que aqui terão nascido cerca do ano 1500, como é o caso dos Gramaxo, ou dos Fernandes, cristãos-novos ou judeus que tiveram problemas com a Igreja.
Teriam estas famílias, na maioria dotadas de património, sendo que alguns eram mercadores, vindo para uma localidade que teve na sua base apenas 40 moradores?
Não me parece e os registos paroquiais também parecem não acompanhar essa teoria.
Em 1576 foram baptizadas em Portimão 64 crianças
Em 1577 foram baptizadas em Portimão 109 crianças
Temos assim, em dois anos, 163 crianças nascidas, ou seja, 163 casais capazes de procriar ao mesmo tempo.
No entanto, a população não era apenas constituída por casais em condições de procriar e nem todos os casais em condições de procriar tiveram filhos nestes dois anos.
Os assentos de baptismo fazem disso prova, pois apresentam uma série de padrinhos que não aparecem como pais, além de referirem pessoas que são solteiras, ou não podem ter filhos.
Por alto podemos dizer com alguma certeza que em Portimão, em 1575, haveriam pelo menos 250 casais em condições de procriar, ou seja 500 pessoas. Sendo o número de filhos elevado, haveriam mais de 500 crianças e não menos de 500 outros indivíduos velhos, solteiros, estéreis, ou vindos de outras localidades. Isto dá uma população de 1500 indivíduos, que a pecar será por defeito.
Um outro dado relevante sobre a estrutura social da época é dado pelos escravos. Entre 1576 e 1580 nasceram em Portimão 23 filhos de escravos, sendo identificados escravos homens e mulheres que, no total, rondarão os 50. É um número bastante significativo, o que demonstra uma posição social elevada das gentes da vila.
Poderia uma localidade fundada por apenas 40 moradores, sem uma outra base sólida já existente, sofrer tamanha mudança em apenas 100 anos, num período em que a população era rara, com uma taxa de mortalidade elevada e com muitos movimentos migratórios para as colónias?
Pessoalmente acho pouco provável, pelo que defendo que São Lourenço da Barrosa poderá ter ajudado ao desenvolvimento da localidade de Portimão, mas não foi a sua fundadora.
Como podemos verificar, entre os fundadores há um João de Portimão, que terá adoptado por apelido o nome da terra de onde seria natural, situação normal para a época.
No entanto, uma análise aos registos paroquiais, que na freguesia de Portimão começam em 1575, podemos verificar facilmente que a maioria dos apelidos destes 40 moradores se mantém 100 anos depois. Mas muitos outros há que não constam nesta lista que, por exemplo os processos do Tribunal do Santo Ofício referem, que aqui terão nascido cerca do ano 1500, como é o caso dos Gramaxo, ou dos Fernandes, cristãos-novos ou judeus que tiveram problemas com a Igreja.
Teriam estas famílias, na maioria dotadas de património, sendo que alguns eram mercadores, vindo para uma localidade que teve na sua base apenas 40 moradores?
Não me parece e os registos paroquiais também parecem não acompanhar essa teoria.
Em 1576 foram baptizadas em Portimão 64 crianças
Em 1577 foram baptizadas em Portimão 109 crianças
Temos assim, em dois anos, 163 crianças nascidas, ou seja, 163 casais capazes de procriar ao mesmo tempo.
No entanto, a população não era apenas constituída por casais em condições de procriar e nem todos os casais em condições de procriar tiveram filhos nestes dois anos.
Os assentos de baptismo fazem disso prova, pois apresentam uma série de padrinhos que não aparecem como pais, além de referirem pessoas que são solteiras, ou não podem ter filhos.
Por alto podemos dizer com alguma certeza que em Portimão, em 1575, haveriam pelo menos 250 casais em condições de procriar, ou seja 500 pessoas. Sendo o número de filhos elevado, haveriam mais de 500 crianças e não menos de 500 outros indivíduos velhos, solteiros, estéreis, ou vindos de outras localidades. Isto dá uma população de 1500 indivíduos, que a pecar será por defeito.
Um outro dado relevante sobre a estrutura social da época é dado pelos escravos. Entre 1576 e 1580 nasceram em Portimão 23 filhos de escravos, sendo identificados escravos homens e mulheres que, no total, rondarão os 50. É um número bastante significativo, o que demonstra uma posição social elevada das gentes da vila.
Poderia uma localidade fundada por apenas 40 moradores, sem uma outra base sólida já existente, sofrer tamanha mudança em apenas 100 anos, num período em que a população era rara, com uma taxa de mortalidade elevada e com muitos movimentos migratórios para as colónias?
Pessoalmente acho pouco provável, pelo que defendo que São Lourenço da Barrosa poderá ter ajudado ao desenvolvimento da localidade de Portimão, mas não foi a sua fundadora.
TOPONIMIA:
A Avenida São Lourenço da Barrosa, antiga V6, resulta do alargamento para 4 faixas de rodagem da antiga estrada que ligava a Aldeia da Boa Vista à Praia da Rocha, efectuado em 1988/89. É a principal estrada de entrada e saída de Portimão. Nesta Avenida localiza-se o Posto da GNR, grandes superfícies comerciais, vários postos de combustível e de lavagem de automóveis, o Centro Comercial Continente e edifício residênciais e de exploração hoteleira.
LIGAÇÕES:
A Avenida São Lourenço da Barrosa tem início na ED-124 e termina na Avenida das Comunidades Lusíadas. Tem ligação com as seguintes artérias: Rua da Esperança, Rua Cidade de Goa, Rua da Pedra, Avenida Paul Harris, Rua do Fojo, Avenida São João de Deus, Estrada de Alvor, Rua Professor Doutor Montalvão Marques, Avenida das Olimpiadas, Avenida Miguel Bombarda, Rua Jaime Palhinha, Rua Pero Vaz, Rua D. Afonso V, Rua Estrela do Mar, Rua do Luar, Rua Agosto Azul e Rotunda Três Castelos.
Caminho de ligação do Vale de França à Avenida São Lourenço da Barrosa (colecção particular)
Avenida São Lourenço da Barrosa (Arquivo da C.M.P.)
Avenida São Lourenço da Barrosa em 2011 (Foto de Nuno Campos Inácio)
Avenida São Lourenço da Barrosa em 2011 (Foto de Nuno Campos Inácio)
Uma rua bem movimentada.
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